Atualmente muitos brasileiros estão vivendo a experiência de morar fora do país por inúmeras razões. Neste espaço vamos registrar alguns exemplos de pessoas que fizeram essa escolha e como se sentem a respeito.
Rebeca Ribeiro Mansfield, jornalista jundiaiense, nos conta um pouco da sua história:
“Acordei hoje cantarolando a música Raindrops keep falling on my head. Na verdade estou sempre a cantar – mas sei que hoje não foi mera coincidência: neste domingo eu celebro dez anos na Inglaterra.”
Eu sempre quis viver em outro País por um tempo para aprender uma nova língua, uma diferente cultura e me complementar como jornalista. Foram cerca de dois anos pesquisando possibilidades e locais, até que me decidi por Londres. Apesar de ter estudado inglês desde a escola primaria, tive muita dificuldade com o sotaque britânico. Quanto à moradia e escola foi tudo tranquilo, pois já tinha tudo planejado.
Ao desembarcar no aeroporto de Heathrow na manhã ensolarada de 22 de abril de 2008 eu não imaginava que deixaria em segundo plano o sonho mal traçado de ser correspondente internacional, ou de entrar para um convento como queria desde criança, para virar esposa e mãe. Mas, de coração afirmo, não há como se arrepender.
Catherine e Anthony são tesouros imensuravelmente mais preciosos que qualquer reportagem bem escrita e me forçam a ser uma pessoa mais doce e fiel. Meu marido é um presente de Deus na minha vida, mesmo quando insiste para eu manter os cabelos longos para todo o sempre (surpreende-me que ele não tenha incluído tal solicitação nos votos matrimoniais). Sim, creiam, tal pedido é real, e brotou há tempos atrás: conta a lenda que um dia, quando criança, Sean assistiu a uma cena do filme ‘Butch Cassidy and the Sundance kid’ e jamais se esqueceu da cena na qual Paul Newman e Katharine Ross andam de bicicleta, ao som da minha trilha sonora de hoje – ‘Raindrops keep falling on my head’. Assim, meu então futuro esposo se apaixonou pelo cabelo longo da moça e decidiu que gostaria de se casar com uma mulher no mesmo estilo.
Sinto falta sim da família, dos amigos, da Igreja e da comida… se bem que hoje, com a graça de Deus, fazemos parte de uma comunidade maravilhosa, e já me acostumei com a comida local (não tem mais feijão e arroz todos os dias). Não temos planos de morar no Brasil, pelo menos em um futuro próximo, já que Sean teria dificuldade para arranjar emprego, pois não fala português.
Mas estou sim feliz e agradecida. O mais curioso é que não me sinto dividida entre dois continentes. Creio que meu coração tenha se alargado para abrigar novas pessoas, aprender com inusitadas experiências e enfrentar missões antes inimagináveis. Amo minha família brasileira e a inglesa. Guardo no coração os amigos do Brasil e abro a cada dia mais espaço para acolher os que se encontram nesse lado do mundo onde hoje estou. Rever algumas das fotos desta última década me mostrou que o meu tempo não voa, mas em um ritmo único me transforma e me enternece.
Deslumbro-me também ao perceber que nada em nossas vidas é coincidência, mas sim bela providência desenhada pelos dedos de Deus. E que os sonhos Dele são maiores e tão mais perfeitos que os meus – mesmo quando alguns pingos de chuva caem sobre mim, aqui ou acolá, ainda assim há beleza… leve beleza que me surpreende”.
Texto: Marlene dos Santos